Promotor
Associação Zé dos Bois
Breve Introdução
Unidos por uma cumplicidade franca e profunda há mais de duas décadas, Margarida Garcia e Manuel Mota têm vindo a criar ao longo desta temporada em progresso contínuo um trajecto singular de ambas as partes que se foi cruzando por inúmeras vezes em palcos, parcerias e discos. 'Domestic Scene', lançado já este ano pela norte-americana Feeding Tube, após o monumento de 'Oars' de 2019 na Headlights de Mota - responsável, não só pelo grosso do trabalho sempre precioso do guitarrista mas também de álbuns a solo de Garcia como 'Leaden Echo' ou 'Der Bau' - é mais uma prova cabal dessa sintonia única entre estes dois artistas superlativos. Binómio abençoado que tem também operado em formações mais alargadas como Curia, em colaborações simbióticas com Marcia Bassett - tcp Zaimph, ex-Double Leopards ou Hototogisu -, encontros mais ad-hoc com músicos como Noël Akchoté ou Alfredo Costa em formações passadas de Sei Miguel, para além de uma partilha de saber e inspiração em discos a solo ou de outras aventuranças de ambos que se espelha no grafismo muito monocromático que assombra-ilumina muitos destes registos. Muita, muita história em comum, ainda a ser devidamente contada.
Descortinando sempre novas formas de expressão, sem com isso cortar abruptamente com tudo aquilo que se precedeu, 'Domestic Scene' sonda territórios ainda por mapear através de uma bruma onde a guitarra eléctrica de Mota e o baixo de Garcia se enredam num todo de lirismo suspenso, onde notas lânguidas se vão libertando pacientemente numa progressão sem inícios nem fins demarcados. Como que erigidos ao silêncio, os sons reverberados e alucinatórios destas cordas tanto se revelam à luz como se escondem na sombra dessa mesma, num estado liminal que nunca impõe um momento de decisão ou ruptura, revelando-se antes a cada gesto, guiados por uma recatada melancolia espectral. Dos ecos da cave à sensação do infinito. Um infinito que é também projecção destas duas almas. BS
Abertura de Portas
21h30
Preços